Resumo
Com o advento do Estado de Bem-Estar Social, a governabilidade adotou uma dinâmica social mais participativa, fincada às bases do constitucionalismo contemporâneo. Nesse cenário, as tutelas coletivas, como herança das class actions norte-americanas, passaram a exercer papel crucial na concretização dos direitos fundamentais sociais, permitindo a aproximação entre justiciabilidade e participação popular na elaboração e execução de políticas públicas, as quais têm como objetivo principal o atendimento às parcelas mais vulneráveis da sociedade. Desse modo, o presente artigo trouxe ao cerne da discussão o estudo da realidade vivenciada por uma parcela minoritária, impopular e segregada da população paraense: as detentas do Centro de Reeducação Feminino (CRF) de Ananindeua. Buscou-se investigar de que modo a violência de gênero sofrida pelas encarceradas deste Centro implica ausência de políticas públicas voltadas para mulheres encarceradas. Para tanto, o trabalho tratou da importância dos instrumentos de participação coletiva, da crítica que recai sobre o ativismo judicial e das influências políticas sobre o processo decisório de prioridades orçamentárias. O método escolhido foi o dedutivo, com abordagem qualiquantitativa, a partir de estudo de caso. Foram utilizados como instrumentos de coleta de dados o levantamento bibliográfico, documental e a pesquisa de campo.Referências
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: fatos e mitos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2006.
BERIZONCE, Roberto Omar. Activismo judicial y participación en la construcción de las políticas públicas. Revistas ICDP, v. 36, n. 36, 2015.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Medida Cautelar na ADPF 347 (0003027-77.2015.1.00.0000). Partido Socialismo e Liberdade. Relator: Ministro Marco Aurélio. 9 de setembro de 2015. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10300665. Acesso em: 26 jun. 2022.
BRASIL. Câmara dos Deputados. Agência Câmara de Notícias. Comissão Debate Denúncias de Tortura em Presídios Femininos do Pará e Ceará. 2019. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/623143-comissao-debate-denuncias-de-tortura-em-presidios-femininos-do-para-e-ceara/. Acesso em: 2 jul. 2022.
BUCCI, Maria Paula Dallari. O conceito de política pública em direito. In: Maria Paula Dallari Bucci. (Org.). Políticas públicas: reflexões sobre o conceito jurídico. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 1-49.
COELHO, Rodrigo Batista. Direitos fundamentais sociais e políticas públicas: subjetivação, justiciabilidade e tutela coletiva do direito à educação. São Paulo: Habermann, 2017, p. 79-130.
COELHO, Saulo de Oliveira Pinto; ASSIS, Aline Neves de. Um constitucionalismo do espetáculo? Espetacularização das políticas públicas e ineficiência do controle jurídico-constitucional. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 115, p. 541-584, 2017.
COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA OAB-PA. Relatório de Inspeção Carcerária no Centro de Reeducação Feminino (CRF) de Ananindeua. Belém: OAB-PA, 2019.
DAVIS, Angela. Estarão as prisões obsoletas? Rio de Janeiro: Difel, 2018.
FONTE, Felipe de Melo. Políticas públicas e direitos fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 33-88.
GELSTHORPE, Loraine. Feminism and Criminology. IN MAGUIRE, Mike. MORGAN, Rod. REINER, Robert (Ed.) The Oxford Handbook of Criminology. Oxford, 3ª ed, 2002.
LIBERATI, Wilson Donizeti. Políticas públicas no estado constitucional. São Paulo: Atlas, 2000, p. 82-175.
MIRALHA, Caroline Medeiros. Assistência à mãe em situação de encarceramento no Estado do Pará. In: Luanna Tomaz de Souza. (Org.). Direitos Humanos e Vulnerabilidade na Amazônia. 1ª ed. Curitiba: CRV, 2014, v. 1, p. 29-55.
NAZARÉ, Anelise Trindade de; SOUZA, Luanna Tomaz de. A Prisão Domiciliar para Mães e Gestantes Encarceradas na Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Pará. In: SOUZA, Luanna Tomaz de; ALVES, Verena (Org.). Mulheres e Sistema Penal na Amazônia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019.
PEREZ, Marcos Augusto. A participação da sociedade na formulação, decisão e execução das políticas públicas. In: Maria Paula Dallari Bucci. (Org.). Políticas públicas: reflexões sobre o conceito jurídico. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 163-176.
ROCHA, Amanda Ferreira. Do “Inferno” aos Sonhos: as Vozes das Mulheres Encarceradas no Centro de Reeducação Feminino de Ananindeua. Dissertação (Mestrado em Segurança Pública ) - Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública, Universidade Federal do Pará, Belém, 2019.
SANTA RITA, Rosângela Peixoto. Mães e crianças atrás das grades: em questão do princípio da dignidade da pessoa humana. 2006. 180 p. Dissertação (Mestrado em Política Social) – Departamento de Serviço Social, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2006. Disponível em http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/6377/1/2006_Rosangela% 20Peixoto%20Santa%20Rita.pdf. Acesso em: 1º jul. 2022.
SANTOS, Thandara; DE VITTO, Renato Campos Pinto. Levantamento nacional das informações penitenciárias – INFOPEN Mulheres. Brasília: Departamento de Justiça e Segurança Pública. 2014. Disponível em: http://www.justica.gov.br/news/estudo-traca-perfil-da-populacao-penitenciaria-feminina-no-brasil/relatorio-infopen-mulheres.pdf. Acesso em: 29 jun. 2022
SANTOS, Thandara (Org.). Levantamento nacional das informações penitenciárias –INFOPEN. Brasília: Departamento de Justiça e da Segurança Pública. 2017. Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/noticias-1/noticias/infopen-levantamentonacional-de-informacoes-penitenciarias-2016/relatorio_2016_22111.pdf. Acesso em: 29 jun. 2022.
SANTOS, Thandara (Org.). Levantamento nacional das informações penitenciárias – INFOPEN Mulheres – 2ª edição. Brasília: Departamento da Justiça e da Segurança Pública. 2018. Disponível em: https://conectas.org/wp-content/uploads/2018/05/infopenmulheres_arte_07-03-18-1.pdf. Acesso em: 29 jun. 2022
SANTOS, Lucas Morgado dos; SOUZA, Luanna Tomaz de. (Des)Encarceramento
Feminino nas Regras de Bangkok. In: XXVIII CONGRESSO NACIONAL DO CONPEDI,
, Belém. Anais do XXVIII CONPEDI - Direito Penal, Processo Penal e
Constituição I, 2019, p. 48-67.
SEAP - Secretaria de Estado de Administração Penitenciária. “SEAP em números”. 2018. Disponível em: http://www.seap.pa.gov.br/content/seap-em-n%C3%BAmeros-0. Acesso em: 30 jun. 2022.
SEAP - Secretaria de Estado de Administração Penitenciária. “SEAP em números”. 2019. Disponível em: http://www.seap.pa.gov.br/content/seap-em-n%C3%BAmeros-0. Acesso em: 30 jun. 2022.
SMART, Carol. Women, crime and criminology: a feminist critique. London: New York: Routledge, 1976.
SOLNIT, Rebecca. A mãe de todas as perguntas: reflexões sobre os novos feminismos. São Paulo, Companhia das Letras, 2017.
SOUSA, Carla Priscilla Castro; SÁ, Lucas Guimarães Cardoso. A percepção de suporte social em mulheres encarceradas. Revista Brasileira de Ciências Criminais. Vol. 146. Ano 26. p. 91-127. São Paulo: Ed. RT, agosto 2018.
O autor concede a autorização de publicação do artigo doutrinário na Revista ESMAT e em sua versão eletrônica, caso seja aprovado pela Comissão Editorial.
Os artigos publicados e as referências citadas na Revista ESMAT são de inteira responsabilidade de seus autores.
O autor se compromete ainda a identificar e creditar todos os dados, imagens e referências. Deve também declarar que os materiais apresentados estão livres de direito de autor, não cabendo, portanto, à Revista ESMAT e a seus editores, quaisquer responsabilidades jurídicas.