“Tem a força e a pujança do nosso Tocantins e da beleza da arte dos seus povos originários”. Foi com essas palavras que o desembargador Marco Villas Boas, diretor geral da Escola Superior da Magistratura Tocantinense (Esmat), celebrou a abertura da exposição fotográfica “Arandu”, inaugurada no último dia 19 de novembro.
No idioma tupi-guarani, Arandu significa sabedoria e conhecimento indígena, conceitos que transcendem o significado literal e se tornam palpáveis nas trinta e três fotografias expostas nas dependências da Esmat. As imagens não apenas capturam, mas cristalizam momentos da vida cotidiana, costumes, tradições e a profunda conexão dos povos indígenas do Tocantins com a natureza. Durante a cerimônia de inauguração, o desembargador Marco Villas Boas destacou a singularidade da arte fotográfica.
“A arte fala por si só. Não temos condições em palavras de descrever uma obra artística, nem a visão que o fotógrafo teve daquele momento cristalizado na sua arte de fotografar, o que resultou na impressão dessas belas imagens que estão emoldurando as nossas paredes”, elogiou.
Sobre o projeto
A exposição é fruto do projeto “Artes, saberes e fazeres dos povos indígenas do Tocantins”, desenvolvido por uma equipe multidisciplinar composta pelos fotógrafos Hodirley Canguçu e Ednan Cavalcanti, a antropóloga Reijane Pinheiro da Silva e a bibliotecária da Esmat, Silvânia Olortegui. As fotografias foram registradas durante visitas às comunidades indígenas do Estado, ocasião em que também foram adquiridas peças de artesanato para compor o acervo permanente da Escola.
Em depoimento, o fotógrafo Hodirley Canguçu compartilhou o impacto da experiência de visitar e registrar as aldeias indígenas. “Sinto-me extremamente realizado, agradecido e encantado com a oportunidade única de vivenciar essa extraordinária experiência de conhecer as comunidades dos povos originários que perpassaram por gerações e perpetuam em nossa região”, expressou.
A antropóloga Reijane Pinheiro da Silva ressaltou a relevância cultural e social da exposição. “A exposição Arandu contribui significativamente para a valorização da diversidade e das identidades dos povos indígenas do Tocantins. As fotos nos convidam a refletir sobre a relação desses povos com seus territórios, as lutas contemporâneas pela preservação das suas terras e, principalmente, pelo respeito às diferenças que os caracterizam”, relatou.
Já a bibliotecária Silvânia Olortegui destacou o papel da fotografia como ferramenta de preservação histórica e sensibilização social. “As imagens ajudam a documentar e a preservar a memória histórica das comunidades indígenas e podem ser instrumentos poderosos para sensibilizar o público sobre as lutas, os desafios e os direitos dos povos indígenas, como a demarcação de terras, a preservação ambiental e o combate às mudanças climáticas”, esclareceu.
Valorização da cultura indígena
Além das fotografias, a exposição apresenta peças de artesanato Rithokô da etnia Karajá, que revelam a habilidade, delicadeza e talento dos artistas indígenas. Essa integração de elementos visuais convida os visitantes a lançarem um novo olhar sobre a riqueza cultural das comunidades indígenas tocantinenses.
Para Txibiê Karajá, representante da etnia Karajá, a exposição é uma importante ferramenta de valorização da cultura indígena. “Acredito que é uma das formas de valorizar a cultura indígena. Mesmo com o avanço da modernidade, ainda é possível unir as duas partes da sociedade e tornar a cultura mais visível e fortalecida por meio de exposições e demonstrações culturais”, observou.
Indígenas no Tocantins
O Tocantins abriga cerca de 20 mil indígenas, pertencentes a nove etnias: Karajá, Xambioá, Javaé (que compõem o povo Iny), Xerente, Apinajè, Krahô, Krahô-Kanela, Avá-Canoeiro e Pankararu. Com 75,98% dessa população vivendo em terras demarcadas, o Estado possui o segundo maior percentual de indígenas habitando territórios tradicionais no Brasil, conforme o Censo 2022.
Mais do que um registro visual, a exposição Arandu é um encontro entre memória e presente, capaz de transformar narrativas em experiências vivas. Pois, assim como apontado pela filósofa Susan Sontag, “a fotografia é universal em sua linguagem e se destina potencialmente a todos”.