Entre o viver e o existir: TJTO abre Semana da Saúde com reflexão sobre o sentido da vida

Foto: Ednan Cavalcanti

“Que ser humano você quer ser ao final da sua vida?”.

Foi com essa pergunta que a professora e filósofa Lúcia Helena Galvão abriu a palestra “Qualidade e Sentido de Vida: reflexões filosóficas”, na tarde desta segunda-feira (27/10), no auditório do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins (TJTO). A atividade marcou o início da X Semana da Saúde do Poder Judiciário Tocantinense, projeto que reúne uma programação voltada ao bem-estar físico, mental e emocional dos servidores e servidoras da Justiça.

Transmitida ao vivo para as comarcas do interior e acompanhada por centenas de pessoas, a palestra propôs uma pausa para um tema que muitas vezes evitamos: nós mesmos.

Um olhar para dentro

Com mais de 600 inscritos, magistrados(as), servidores(as) e estagiários(as) foram convidados a refletir sobre o que dá significado às suas trajetórias. Para a palestrante, a busca por bem-estar só é plena quando acompanhada de autoconhecimento.

“Quem é você? Que ser humano deseja ser ao final da vida?”, perguntou Lúcia Helena.

“Qualidade de vida não é apenas conforto, lazer ou segurança. É saber onde queremos chegar e o que estamos construindo em nós mesmos. Quando temos um sentido, temos direção, e é isso que nos permite discernir e escolher o que realmente importa”, apontou.

A professora falou sobre o vazio existencial que muitas vezes se confunde com o cotidiano acelerado, apontando que o ser humano moderno costuma buscar felicidade em “rotas de fuga”, sejam elas o consumo, o excesso de distrações ou a constante necessidade de aprovação social.

“Há pessoas que possuem tudo e ainda assim se sentem infelizes”, disse, ressaltando que a verdadeira liberdade está em controlar pensamentos, emoções e ações, e não em atender às expectativas externas.

O convite era claro: imaginar os últimos dias da vida e pensar em quem desejamos ter nos tornado. Que virtudes teremos desenvolvido? Que rastro deixaremos no mundo?

A filósofa também criticou o chamado “pacote da felicidade máxima”, uma busca incessante por bens, status e validação que, muitas vezes, apenas encobre a ausência de sentido.

“Pessoas com muitas posses e altamente deprimidas são exemplos de que não é a quantidade de coisas que possuímos que nos faz felizes, mas o quanto nos possuímos. Talvez o que nos falte seja justamente isso: sermos donos de nós mesmos”, refletiu.

Lúcia Helena também destacou a importância das virtudes, o valor do amor como força transformadora e a necessidade de enxergar a vida como uma obra em construção.

“A melhor coisa que podemos fazer por quem amamos é crescer como seres humanos. O amor verdadeiro é exigente, é altruísta. Ele nos impulsiona a ser melhores, a inspirar o outro”, pontuou. 

Ao citar pensadores como Platão, Aristóteles, Sartre e os estoicos, a filósofa demonstrou que o sentido da existência está em tornar-se referência de humanidade, alguém que, ao se aperfeiçoar, transforma também o mundo ao redor.

“A vida é fugaz. O que permanece é o quanto nos tornamos pessoas melhores, e o quanto fomos instrumentos de transformação para os demais”, disse.

Um convite ao cuidado integral

Antes da palestra, a presidente do TJTO, desembargadora Maysa Vendramini Rosal, destacou que a X Semana da Saúde reforça o compromisso da instituição com o cuidado integral de seus integrantes.

“Cuidar da saúde física, mental e emocional de quem constrói o Poder Judiciário é também cuidar da Justiça. Esta edição da Semana da Saúde é um presente — uma demonstração de respeito e valorização a cada servidor e servidora”, expressou.

A coordenadora do Espaço Saúde, doutora Elaine Cristina Ferreira, também reforçou o propósito humano da iniciativa: “Cada ação tem um impacto real na vida das pessoas. É isso que dá sentido ao nosso trabalho: cuidar de quem faz o Tribunal acontecer.”

O eco da palestra

A palestra não foi apenas sobre filosofia, foi sobre humanidade. Em determinado momento, o silêncio na plateia era visível. Alguns anotavam frases; outros apenas olhavam para o chão. Talvez o sentido da vida não tenha se revelado ali, mas a disposição para buscá-lo, sim. Como lembraria Platão, sair da caverna exige coragem. Como diria Sartre, essa coragem é o preço da liberdade. E como concluiu Lúcia Helena:

“O que realmente dá sentido à vida é o que construímos dentro de nós enquanto caminhamos.”

Talvez por isso, ao final, todos tenham saído dali com algo novo, uma dúvida, uma certeza, um leve incômodo. Sinais, talvez, de que a filosofia cumpriu seu papel: fazer pensar, sentir e, de algum modo, voltar a existir.


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